Novo coronavírus

'Estamos no 4º ou 5º dia só com 8 casos. É fruto das decisões difíceis', diz Pozzobom

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Foto Pedro Piegas/

O prefeito Jorge Pozzobom (PSDB) diz que, se dependesse dele, ainda não liberaria o comércio no sistema de tele-entrega e "pegue e leve" e não permitiria nem que lojas de materiais de construção abrissem, conforme determinou o decreto do governador Eduardo Leite. Pozzobom teme que isso vá aumentar muito o número de pessoas indo trabalhar e acredita que alguma flexibilização só poderia ocorrer a partir do dia 6, próxima segunda-feira. 

- Estamos no 4º ou 5º dia só com 8 casos confirmados em Santa Maria. Em dois dias, passamos de 20 para 39 casos descartados. Isso é fruto das decisões difíceis que tomamos. Fomos o primeiro município a suspender aulas e a restringir shoppings, cinemas, transporte coletivo. Então, nós fizemos tudo para garantir o isolamento, medidas antipáticas, e sofremos críticas até não poder mais. Mas só desta quarta para quinta, depois desse novo decreto do governo do Estado, pulou de 8 mil para 13 mil pessoas nos ônibus em Santa Maria. Já está difícil as pessoas obedecerem o isolamento, passei na Helvio Basso e na Faixa Velha e tinha muita gente na rua. Pessoal correndo, andando de bicicleta. Meu temor é que aumente muito a circulação. E o frio está chegando - diz ele.

Confira trechos da entrevista, feita no início da noite desta quinta-feira:

 "Vamos imaginar que comece a circular esse monte de gente na rua. Temos 17 mil comerciários. Eu não sei quantos desses vão estar trabalhando no sistema de tele-entrega e pague e leve, em que vão atender pela porta. Nas grandes lojas, vai ter só uma pessoa no pague e leve? Vão dizer: 'Ah, mas estão dentro da loja!' Mas eles têm de sair de casa e estar dentro da loja. Eles vão como? Dentro do ônibus. Vão almoçar onde? Como? Vão sair para almoçar. Como vão voltar para casa. Eu vou respeitar o decreto (do Estado), até porque não temos alternativa que não respeitá-lo. Mas no que dependesse de mim, antes do dia 6, eu não alterava nada. Eu tinha fixado dia 20 para voltar as aulas, e o governador fixou para dia 30. Daí, já alterei também para dia 30 (em Santa Maria). E mais ainda. As aulas, se tiver de adiar por mais 30, 40 ou 60 dias, eu não estou preocupado, vamos dar um jeito de recuperar. Porque estamos tirando um calhamaço de gente de rodar na cidade. A preocupação que eu tenho é o número de pessoas que vai circular, que vai aumentar muito. Fora o que já tinha circulando, pois tem gente que não está nem aí."

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"Acho que não foi legal isso (decreto do Leite), sob o ponto de vista técnico. A gente ainda não está com os leitos montados, ainda não temos a testagem maior. Os testes, a gente iria comprar, mas deu errado, pois depois disseram que não era mais para comprar esse tipo de testes. Daí questionaram por que tem mais de 400 suspeitos. Para mim, qualquer um é suspeito. Tem uma gripezinha, uma dorzinha na garganta, coloca para investigar e em isolamento. Se em 14 dias, não deu nada, tá liberado."

"Me preocupa chegarmos antes do dia 5 com parte do comércio aberto. Conversei com o ministro Mandetta, com o João Gabbardo, para ver o que iríamos fazer a partir do dia 6 de abril. Era abrir de maneira gradativa, era começar com a construção civil, era liberar a indústria, que o Leite já liberou sem ter minimamente um regramento, se vai ser um turno, ou com revezamento de equipe. Daí, a loja de material de construção, a de fechaduras, a de areia pode abrir. A Quero-Quero vai vender materiais de construção. Daí, o vendedor, a cada R$ 100, ganha R$ 1 de comissão. E na crise que estamos, esse R$ 1 significa R$ 10 para ele. Daí, eu chego lá e vou comprar 10 sacas de cimento. Ele só pode vender o cimento. Daí, eu digo que quero comprar um ventilador. Ele vai dizer que não pode? Claro que vai me vender. Isso que está me preocupando."

"Primeiro, a gente já estava com uma desobediência normal. Como não foi aumentando os casos e não teve nenhuma morte, o pessoal relaxou. E agora com o decreto (do Leite), esse grande número de pessoas circulando me preocupa muito."

Ônibus superlotado causa indignação

"E tem a questão do transporte coletivo. Nós estávamos reduzindo o volume a 8 mil pessoas por dia. Nesta quinta, já teve 13 mil e esperamos que chegue a 25 mil a 30 mil a partir desta sexta. Nesta quinta, teve o caso de um ônibus em que a empresa foi notificada, pois cobrador não poderia ter deixado todo mundo entrar, tinha determinação de ter fechado a porta. E depois, pessoal entra e não quer desembarcar."

"Por causa da maior de circulação de pessoas, determinamos que haja aumento do número de ônibus a partir desta sexta, para não haver superlotação. As pessoas só podem ir sentadas, não em pé. Determinação é que o cobrador não deixe entrar mais. É outra medida que temos de tomar, pois tem de transportar o pessoal que vai trabalhar. Nesta sexta, é o primeiro dia. Vamos ter de ir reavaliando. "

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"E outra coisa: nós estamos pulando de 8 mil para 30 mil pessoas circulando por dia, quando estamos entre 6 e 20 de abril, que é o maior problema, no radar dos médicos. E a segunda quinzena de abril, que é quando começa a primeira onda de frio no Rio Grande do Sul."

"Eu tenho conversado muito com a secretária estadual Arita (Bergmann, da Saúde) sobre tudo isso. Eu quero que o comércio volte o quanto antes. Hoje, falei com um empresário, só faltou ele se abraçar. Chorou feito uma criança e dizia "Jorge, eu não tenho dinheiro para pagar meus funcionários". Isso me incomoda muito. Nós não sabemos o tamanho desse negócio. Os médicos estão falando: 'não sei te dizer, qualquer coisa que eu disser eu pode estar errado'. Então, eu estou pecando pelo excesso do que pela omissão."

"Eu vou conversar com a Arita, pois temos três preocupações. Primeiro, é a questão da prevenção, que deu uma afrouxada, contra a minha vontade. Segundo é que não estamos com os leitos prontos ainda e com os testes, e terceiro, é a questão econômica. Nós estamos com três problemas para resolver ao mesmo tempo. Nós vínhamos com um planejamento, e tudo acabou acontecendo ao mesmo tempo. Mas eu estou esperançoso, estou com minha consciência tranquila. Sabe como é chegar em casa e conseguir dormir, que não está fácil também?"


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